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Batuíra, um Pioneiro Pouco Conhecido dos Espíritas por Ari Rangel

Às vezes, nem sempre conhecemos devidamente a história daqueles que nos precederam, que abriram caminhos até mesmo com a própria vida para que hoje desfrutemos de uma série de coisas que fazemos com certa tranquilidade.

Na história do Espiritismo Codificado, nos seus primórdios, vários espíritos missionários e pioneiros, sofreram todos os tipos de privação, perseguição, incompreensão e, às vezes, até mesmo a solidão.

Quando Jesus determinou que a árvore do seu Evangelho fosse transposta para o Brasil, por conta do poder temporal ter feito todos os tipos de deturpações, o Mestre convoca uma série de trabalhadores, no mundo espiritual, para que se corporificassem na Terra, afim de que tudo saísse a contento:

— Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial. Tu, Helil* te corporificarás na Terra, no seio do povo mais pobre e mais trabalhador do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que sejam transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do novo mundo. Instalaremos aqui uma tenda de trabalho para a nação mais humilde da Europa, glorificando os seus esforços na oficina de Deus. Aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo!

Consoante a vontade piedosa do Senhor, todas as suas ordens foram cumpridas integralmente.

Daí a alguns anos, o seu mensageiro se estabelecia na Terra, em 1394, como filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, e foi o heróico Infante de Sagres, que operou a renovação das energias portuguesas, expandindo as suas possibilidades realizadoras para além dos mares. .

O elemento indígena foi chamado a colaborar na edificação da pátria nova; almas bem-aventuradas pelas suas renúncias se corporificaram nas costas da África flagelada e oprimida e, juntas a outros Espíritos em prova, formaram a falange abnegada que veio escrever na Terra de Santa Cruz, com os seus sacrifícios e com os seus sofrimentos, um dos mais belos poemas da raça negra em favor da humanidade.

Foi por isso que o Brasil, onde confraternizam hoje todos os povos da Terra e onde será modelada a obra imortal do Evangelho do Cristo, muito antes do Tratado de Tordesilhas, que fincou as balizas das possessões espanholas, trazia já, em seus contornos, a forma geográfica do coração do mundo.

(Extraído do Livro, Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de autoria espiritual de Humberto de Campos, pela psicografia insuperável de Chico Xavier)

Assim, do descobrimento dessa nova terra até a chegada do Seu Evangelho Redivivo, vamos encontrar uma plêiade de espíritos dedicados a essa missão, corporificando-se diversas vezes, para que aqui, enfim, estivesse a salvo a mensagem de Jesus sem as lamentáveis intervenções do homem e do poder temporal.

Batuíra, um pioneiro de longa data

Em 1850, chega, na antiga capital do Império, um menino de apenas 11 anos de idade, mandado que fora pelo pai, um camponês português, afim de que ele, em companhia do irmão que já estava aqui, tivesse melhor sorte em terras brasileiras.

Aqui ele aporta trazendo uma missão espiritual pra lá de especial: a de colaborar na implantação do Consolador Prometido por Jesus, da Terceira Revelação, da Revivescência do Evangelho, ou seja, do velho projeto das falanges do Cristo de salvaguardar a pureza de sua mensagem.

Foi assim que o português Antonio Gonçalves da Silva (ilustrado na imagem ao lado), pertencente à hostes mais nobres do Cristo, ao lado de Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Análio Franco, entre outros, regressa ao mundo físico.

Como toda vida missionária não encontrou grandes facilidades.

Durante três anos, de 1850 a 1853, trabalha duramente no Rio de Janeiro até se transferir para Campinas, onde será humilde lavrador.

Inconscientemente, entretanto, o jovem é levado a cidade de São Paulo (foto do Largo São Francisco em São Paulo acima), onde, certamente, estava reservada aquela que seria a sua maior missão. E para lá vai, definitivamente.

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Como uma ave ligeira

Quando chega à capital paulista, entre outros afazeres vai trabalhar como distribuidor do “Correio Paulistano”, já que àquela época não havia bancas e os jornais eram entregues nas casas, no finalzinho da tarde.

Sem parar, sempre lépido, correndo daqui para lá, recebe ele o apelido de Batuíra, uma ave de voo rápido que costumava habitar o Rio Tamanduateí, na cidade de São Paulo da época.

Vale destacar que à essa época a cidade contava com uma população de aproximadamente 30 mil habitantes. Dizia-se que os estudantes do Largo do São Francisco foram os responsáveis desse apelido, que ele incorpora em definitivo.

Incansável

Sempre em movimento e fazendo juz ao seu apelido, Batuíra era um homem incansável, dedicando-se a várias atividades ao mesmo tempo. Conectado aos acontecimentos de seu tempo vamos vê-lo engajado na campanha abolicionista, por exemplo.

Chegou a criar, na antiga rua da Cruz Preta (foto da rua acima), mais tarde chamada de Quinto Bocaiúva, um pequeno teatro no fundo de uma taverna, onde vários atores amadores fizeram suas estreias e ele também atuava, sendo inclusive muito aplaudido quando aparecia, tamanho o seu carisma.

Dedicou-se ainda à fabricação de charutos o que lhe conferiu certa economia para poder se casar com a senhora Brandina Maria de Jesus, com quem teve um filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que viria a falecer aos 35 anos de idade.

Abolicionista

De espírito humanitário, era comum Batuíra dar abrigo, além dos doentes e necessitados de toda sorte aos escravos foragidos, escondendo-os em sua própria casa até que conseguissem uma carta de alforria, um documento necessário para que obtivessem de vez a liberdade, que só se conseguia comprando dos donos dos escravos.

Vamos encontrá-lo, assim, tão engajado nessa campanha que ele próprio produzia impressos falando sobre a importância e a necessidade de se libertar os escravos no Brasil, custeando o próprio material.

Eventos assim o notabilizavam de tal forma que a na história oficial da cidade de São Paulo há vários registros dos seus muitos feitos, sobretudo na esfera do bem comum.

O (Re) encontro com o Espiritismo

Batuira, a exemplo de Bezerra de Menezes, trazia dentro de si o conhecimento espírita sem o saber, justamente por se tratar de missionários da Doutrina.

Mas um fato decisivo vai levá-lo a abraçar de vez o Espiritismo: a morte de seu filho de doze anos, que segundo seus biógrafos, foi uma morte repentina em razão de um tétano depois de o menino haver pisado no espinho de uma roseira.

Quim” era fruto de seu segundo casamento com Dª Maria das Dores Coutinho e era um filho muito querido pelo casal.

Diante da dor estrema, quando o menino estava sendo velado na sala da casa do casal, muito triste, Batuíra recolhe-se num quarto e se tranca por longo período. Notícias dão conta que é ali que ele tem uma experiência transcendente.

Vendo o espírito de “Quim” que o consola, Batuíra desperta da vez para as realidades espirituais e saí dali desejoso de consolar ainda mais os necessitados.

Entrega-se ao Espiritismo com todas as letras e passa a divulgá-lo como ninguém, vivenciando o Evangelho em cada expressão.

Depois desse acontecimento o casal ainda adota uma criança com necessidades especiais com sérios comprometimentos.

O pioneiro e suas obras

Entre os muitos feitos de Batuíra na divulgação do Espiritismo destacamos alguns:

▸ Representante, a partir de 1889 da Revista Espírita “Reformador”, da Federação Espírita Brasileira;

▸ Fundador do Grupo Espírita “Verdade e Luz” (Foto acima do Prédio da Instituição Verdade e Luz, localizado a rua Espírita, número 28 em São Paulo, doado por Batuíra, foto do início dos anos 20, fonte: blog Doutrina Espirita);

▸ Criador de pequena tipografia destinada à divulgação e propagação do Espiritismo, editando quinzenalmente o periódico “Verdade e Luz”, contendo quatro páginas e publicado aos milhares;

▸ Médium curador, ministrando receitas homeopáticas, água magnetizada e passes, que lhe valeu, a exemplo de Bezerra de Menezes, o título popular de “Médico dos Pobres”;

▸ Criador de diversos grupos e centros espíritas em São Paulo, Rio e Minas, os quais assistia com orientações doutrinárias, mediúnicas e através de conferências;

▸ Propagador incansável dos preceitos espíritas com folhetos impressos por ele próprio e distribuídos gratuitamente, além de livros por todo país;

▸ Criador, ao lado de outros confrades, da “União Espírita do Estado de São Paulo”, unindo as casas espíritas de todo o estado e dando-lhes suporte e orientação doutrinária; e

▸ Um extraordinário exemplo moral e conduta eminentemente cristãos, de “Verdadeiro Homem de Bem”.

Um Espírito de Longa Data

No livro “50 Anos Depois”, de autoria espiritual de Emmanuel e psicografia de Francisco Cândido Xavier vamos encontrá-lo no personagem Lésio Munácio, cristão do segundo século.

Mais tarde o teremos na pele de Dom Diniz, esposo da Rainha Santa Isabel de Aragão, soberano de Portugal e Algarves, entre os séculos XIII e XIV.

Santa Isabel, na obra “Nosso Lar”, de André Luiz, é a Ministra Veneranda, um espírito de grande evolução espiritual.

Biógrafos da época dão conta que Dom Diniz foi um soberano muito letrado e poeta de elevadíssima inspiração.

Dois séculos depois vamos vê-lo na figura do português João Ramalho, que vem para o Brasil colonial e se casa com a filha do cacique Tibiriçá, líder dos índios Guainazes, que no episódio histórico que ficou conhecido como “Confederação dos Tamoios”, lutam contra os índios Tupinambás e Aymorés, que ao lado dos franceses tentavam se impor no Brasil.

João Ramalho por haver se casado com a índia Bartira selou uma espécie de elo de sangue com aquela tribo que luta ao lado dos portugueses.

Ele ainda é contemporâneo dos padres Manoel da Nóbrega (Emmanuel) e Anchieta, os qual colabora, juntos desses, na fundação de São Paulo de Piratininga.
Amigo do Governador da Capitania de São Vicente, Brás Cubas, João Ramalho funda ainda as cidades de Santo André da Borda do Campo e São Bernardo.

Não é, certamente, à toa que vamos vê-lo de volta no estado de São Paulo dando prosseguimento à monumental obra que iniciara no passado.

E, por fim, vamos encontrá-lo no grande pioneiro do Espiritismo, ajudando a implantar a árvore do Evangelho de Jesus na terra chamada por Humberto de Campos de a “Pátria do Evangelho e Coração do Mundo” (ilustração da capa do livro ao lado).

Vale ressaltar que espíritos como Batuíra, Bezerra de Menezes, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, entre outros, vieram de certa forma pavimentar a estrada do Espiritismo, antecedendo, inclusive, a vinda de Francisco Cândido Xavier, este último, com certeza, o maior missionário da doutrina codificada por Kardec, depois de Kardec, desdobrando de maneira hercúlea o trabalho iniciado pelo mestre de Lion.

Conhecer a história de pioneiros como Batuíra, sem dúvida, é valorizar a liberdade que hoje desfrutamos para, num país de grandes tradições religiosas como o Brasil, ser espírita consciente de que lá atrás, nas primeiras horas da doutrina que hoje nos consola, houve missionários que o Plano Espiritual nos enviou.

Trovas ao Pioneiro

Sob as bênçãos de Jesus
E o amparo de Ismael,
Ei-lo de volta ao Brasil
Destemido e fiel.

Como outrora João Ramalho,
Do distante Portugal,
Cá chegou esperançoso
Em missão especial.

Quando em solo brasileiro,
Aportou inda menino,
Viu que aqui era onde estava
Toda a luz do seu destino.

Desde a capital do Império
Mourejando com ardor
Foi-se embora pra Campinas
Ser humilde lavrador.

Entretanto um apelo
Invisível e constante
O levou à capital
Da divisa bandeirante.

Homem bom e prestimoso
Que São Paulo jamais vira
Era, agora, simplesmente,
O bondoso “Batuíra”!

Mensageiro da esperança
Fez-se archote puro e vivo
Refletindo as claridades
Do Evangelho Redivivo!

Denodado tarefeiro
De incansável devoção,
Eis em cena o Pioneiro
Da Nova Revelação…

Foi, assim, que o missionário,
Com alegria e altruísmo,
Espalhou com seu exemplo
As luzes do Espiritismo…

— Batuíra Pioneiro!…
Ouve em paz nossa oração,
Que elevamos a Jesus
Reluzindo gratidão!

EURÍCLEDES FORMIGA

(Mensagem psicografada em reunião pública no Centro Espírita “Casa de Eurípedes”, em Taubaté-SP, no dia 26 de Dezembro de 2009, pelo médium Ari P. Rangel).

PEQUENA CRONOLOGIA:

▸ 1839: Nasce a 26 de Dezembro de 1839*, em Portugal, na Vila Meã, freguesia de Tomé de Castelo, Conselho de Vila Real (foto acima da casa onde nasceu Batuíra, fonte: site noticiasespiritas.com.br);

▸ 1850: Chega ao Brasil, Rio de Janeiro, com apenas 11 anos, onde já morava um seu irmão;

▸ 1853: Parte para a cidade de Campinas onde trabalhará como lavrador;

▸ 1856: Transfere-se em definitivo para a cidade de São Paulo, capital do Estado;

▸ 1889: Passa a ser representante da revista “Reformador”, da FEB, em São Paulo;

▸ 1890: Inicia a publicação do Periódico “Verdade e Luz” e funda o Centro Espírita homônimo;

▸ 1908: Com ajuda de alguns confrades funda a “União Espírita do Estado de São Paulo”; e

▸ 1909: Regressa ao plano espiritual no dia 22 de Janeiro, depois de árduos trabalhos vivendo e divulgando o Espiritismo (foto abaixo da placa no túmulo de Batuíra no Cemitério da Consolação em São Paulo, Brasil. Foto Ismael Gobbo).

*Nota de Esclarecimento: Apesar de estar escrito na Placa do Tumulo 19-3-1839, o Registro de Nascimento apresentada como nascido em 26 de Dezembro de 1839, evidenciado e grifado em vermelho na imagem abaixo:

TRAJETÓRIA EVOLUTIVA:

▸ SÉC.II: Lésio Munácio;
▸ SÉC. XIII e XIV: Dom Diniz;
▸ SÉC. XVI: João Ramalho; e
▸ SÉC. XIX: Antonio Gonçalves da Silva (Batuíra).

Ari Rangel

Fontes:

  1. Grandes Espíritas do Brasil, de Zêus Wantuil;
  2. Grandes Vultos do Espiritismo, de Paulo Alves Godoy;
  3. Orlando Carvalho, palestra Youtube;
  4. Brasil, coração do mundo, Pátria do Evangelho, Humberto de Campos/ Chico Xavier;
  5. 50 anos depois, Emmanuel/ Chico Xavier.

Post Relacionados:

▸ 557 – Batuíra e o Espiritismo no Brasil com Ari Rangel

▸ Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho por Ari Rangel

▸ 464 – Brasil, Pátria do Evangelho Coração do Mundo com Ari Rangel

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