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Credo de Eurípedes Barsanulfo por Caderno de Mensagens

Trata-se do CREDO de Emanuel Darcey, incondicionalmente subscrito por Eurípedes, na noite de 31 de outubro de 1913.

A publicação do Credo aludido se fez, para ampla vulgarização, encimada pelos belos versos de Victor Hugo, que se seguem:

Credo

“Tudo se move e exalta e se esforça e gravita;
Tudo se evola se eleva e vive e ressuscita;
Nada pode ficar na surda obscuridade.
D’alma exilada a senda é toda eternidade,

Que se aconchega ao céu, que a todos nós reclama.
Aos dóceis se atenua a dolorosa flama
Da dura provação. A sombra faz-se aurora,
Homem e besta em anjos se aprimora;

E pela expiação, escada de equidade,
De que uma parte é treva e a outra, claridade,
Sem cessar, sob o azul do céu calmo e formoso,
Sobe ao universo dor, ao universo gozo.”

Victor Hugo

Credo de Eurípedes Barsanulfo

“CREIO que não temos nossa causa em nós mesmos; que existe acima do homem e superior à natureza um Ser Pensante, Infinito, Eterno, Imutável, um Supremo Legislador; que a existência de um Criador, de uma Razão primitiva, é um fato adquirido pela evidência material dos fatos, que o Universo não é nem surdo, nem cego; que a vida não é uma confusão sem fim, um caos informe; que tudo tem a sua razão de ser, seu alvo, seu fim.

CREIO que o Nada é uma palavra vã; que a morte não existe; que nada morre; que o ser sobrevive ao seu invólucro; que a morte não é um termo, mas, uma metamorfose, uma transformação necessária, um renovamento; que somos eternos pela base do nosso ser; que nada do que existe pode ser aniquilado; que existiremos, porque existimos.

CREIO que não há aniquilamento, mas sempre estados sucedendo a outros estados, a eterna transmissão de uma ordem de coisas a outra, de uma economia a outra, de um serviço a outro; que tudo renasce; que tudo volta a sua hora, melhorado, aperfeiçoado pelo labor; que o nascimento não é o verdadeiro começo; que nascer não é principiar, mas mudar de figura; que nossas existências não são mais do que continuações, séries, conseqüências, que sono ou despertar, morte ou nascimento, são uma e a mesma coisa; transição semelhante, acidente previsto.

CREIO que tudo evolui e tende para um estado superior; que tudo se transforma e aperfeiçoa; que o homem marcha sempre e sempre se engrandece; que tudo rola, prolonga-se e renova-se; que a morte não é o único teatro de nossas lutas e de nossos progressos; que o universo é sem lacuna; que há mundos infinitos nesse universo infinito; que o mundo é um ponto que conduz a outro e que os há para todos os graus de crescimento.

CREIO que, saindo desta vida, não entramos em um estado definitivo; que nada se acaba neste mundo; que enquanto um destino humano tem alguma coisa a cumprir, isto é, um progresso a realizar, não está para ele acabado; que a morte não deve ser tomada senão como um descanso em nossa viagem; que a morte é feixe de caminhos, que irradiam em todas as direções do universo e nos quais efetuamos nosso destino infinito.

CREIO que DEUS não criou almas civilizadas; que a alma humana é o resultado do trabalho da vida; que todos os homens são cidadãos da mesma pátria, membros da mesma família, ramos da mesma árvore; que todos têm origem, destino e aspiração comuns; que todos começaram a ascensão e que estão mais ou menos altos; que os mais vis têm por lei alcançar os mais elevados.

CREIO que o homem não é o último anel que une a criatura ao Criador; que não somos os primeiros depois de DEUS; que temos ao menos tantos degraus sobre a cabeça como abaixo dos pés; que a vida está em toda parte, que a alma está em toda parte, que a alma está em toda coisa, que o corpo envolve um espírito; que o homem não é o único; que é seguido de uma sombra; que todos, o próprio calhau miserável tem atrás de si uma sombra, [têm] uma sombra diante deles; que todos são a alma que vive, que viveu, que deve viver.

CREIO que a harmonia do Universo se resume em uma só lei, que o progresso por toda parte é para todos, para o animal como para a planta, para a planta como para o mineral; que tudo segue a mesma rotação, que tudo morre da mesma maneira e morre ultimamente; que a vida sorve todos os seus elementos da própria morte; que cresce por série contínua de transformações infinitas, que parte do infinitamente pequeno e marcha para o infinitamente grande.

CREIO que tudo o que vive é encarnação; que toda evolução, toda transformação é encarnação; que as criaturas sobem no crescimento d’alma como no dos invólucros; que o homem é o espírito encarnado; que a alma não é criada ao mesmo tempo em que o corpo, que ela é apenas incorporada; que a encarnação é uma lei da natureza, uma necessidade absoluta, conseqüência lógica da lei do progresso; que todo homem é um resumo de existências anteriores, que se compõem de numerosos personagens, formando um só.

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CREIO na pluralidade dos mundos, na multiplicidade das existências, na universal ascensão dos seres, na progressão contínua da alma, com os seus transportes, seus recuos, suas crises e as sanções que daí decorrem.

CREIO que neste Universo, obra da Infinita Sabedoria, nada acontece pelo jogo do acaso, que nada se faz sem uma Soberana Justiça; que toda desordem não existe senão em aparência; que não há acaso nem fatalidade; que há forças, leis, que ninguém pode derrogar; que todas as coisas do mundo têm ligação entre si; que nada é isolado; que o mundo material é solidário com o mundo espiritual e que ambos se penetram reciprocamente; que tudo se mantém, se concorda, tudo se encadeia, e se liga, sob o ponto de vista moral, como físico, que na ordem dos fatos, do mais simples ao mais complexo, tudo é regulado por uma lei.

CREIO que a lei moral é uma verdade absoluta; que a Justiça, a Sabedoria, a Virtude, existem na marcha do mundo, tanto quanto a realidade física; que não se pode transpor, sem trabalho e sem mérito, um grau na iniciação humana; que o espírito deve chegar só, por si, à verdade, e que tem de tornar-se merecedor de sua felicidade; que a felicidade para ter tido o seu preço, deve ser adquirida e não concedida.

CREIO que a vida não é um jogo, uma ilusão, que a verdadeira vida não é a que multiplica gozos; que a felicidade tal qual a entendemos não pode existir; que é preciso que o esforço subsista neste mundo; que não estamos aqui para gozar, mas para lutar, trabalhar, combater; que a luta é necessária ao desenvolvimento do espírito; que o verdadeiro fim da vida consiste no dever que incumbe a todo ser humano de subjugar a matéria ao espírito.

CREIO que o homem é justificado não por sua fé, mas por suas obras; que a prática do bem é a lei superior, a condição sine qua non de nosso futuro; que a santidade é o alvo a que devemos chegar; que não se pode fazer tudo impunemente; que a felicidade e a desgraça dos homens depende absolutamente da observação da lei universal, que rege a ordem em a natureza.

CREIO que existem um Inferno e um Paraíso filosóficos, isto é, um sistema natural que liga entre si, intimamente, as causas além e aquém do tempo; que sempre nos sucedemos a nós mesmos; que sempre determinamos, por nossa marcha presente, a marcha que seguiremos mais tarde.

CREIO que o presente determina o futuro; que cada homem tece em volta de si o seu destino; que se torna sem cessar o que mereceu ser; que nenhum desvio do caminho reto fica impune; que os que dele se afastam serão a ele levados fatalmente; que o progresso é uma lei soberana a qual ninguém resiste; que não há um defeito, uma imperfeição moral, uma ação má que não tenha a sua contradita e suas conseqüências naturais; que não há ato útil sem proveito, falta sem sanção; que não há ação que possa sonegar-se.

CREIO que cada um deve a si mesmo a sua sorte; que cada um cria as suas alegrias como as suas penas; que o homem é o seu próprio algoz; que se remunera e se pune a si mesmo; que colhe o que semeia e nutre-se do que colhe, debilitado ou fortificado pelos alimentos que ele próprio produziu; que a alma transporta em si mesma seu próprio castigo, em todo lugar em que se possa encontrar; que o inferno não é um lugar, mas uma condição de ser, um estado da alma; que pertence a cada de nós sair dele ou aí nos manter.

CREIO que a pena não está senão na falta; que é impossível que essas coisas possam separar-se; que o sofrimento não é resultado do acaso; que toda lágrima lava alguma coisa; que dor e culpabilidade são sinônimos; que o homem em evolução é tributário de seus erros e de seus maus pensamentos; que somos nós os instrumentos de nosso próprio suplício.

CREIO que toda vida culposa deve ser resgatada; que toda falta cometida, todo mal causado é uma dívida contraída, que deve ser paga no momento ou noutro, quer em uma existência quer na outra; que a fatalidade aparente, que semeia de males o caminho da vida, não é senão a conseqüência do nosso passado, o efeito produzido pela causa; que a vida terrestre é ao mesmo tempo reparação e preparação; que nenhum de nós é o que deve ser e que é preciso que a razão se cumpra, que a justiça se faça e o bem seja.

CREIO que cada nova existência é um novo ponto de partida, em que o homem é aquilo que se fez; que renasce com o seu débito e com o seu crédito; que nada perde do que adquiriu; que o esquecimento temporário do passado é a condição indispensável de toda provação e de todo o progresso; que é preciso que o esforço seja livre e voluntário; que o conhecimento dos fatos anteriores e das sanções inevitáveis embaraçaria o homem, em lugar de ajudá-lo; que é justo e necessário que, em seu estado atual, o passado e o futuro lhe sejam ocultos.

CREIO, enfim, que a revelação é progressiva, que a verdade se desvenda sempre, segundo os tempos e os lugares; que estamos na aurora da vida consciente e que marchamos, todos, na solidariedade universal, através de vidas sucessivas para a infinita perfeição; que o futuro encerra e que tudo foi criado tendo em vista um bem final; que o Bem é a lei do universo e o Mal um estado transitório, sempre reparável, uma das fases inferiores da evolução dos seres para o bem; que nada de irremediável pesa sobre nós; que tudo se apaga; tudo se dissolve; que a dor é libertadora; que nada é negro, nada é triste; que tudo acaba bem e que não se tem senão de esperar a sua hora em um mundo ou em outro.”

Euripedes Barsanulfo

Fonte:
NOVELINO, Corina. Eurípedes: o homem e a missão. São Paulo: IDE, 1979, 256p.

por Caderno de Mensagens

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