Amigos e irmãos de ideal, que a paz verdadeira brote plena em nossos corações!
Conta-se, no plano espiritual, que a exemplo de Sócrates, o velho ateniense, um filósofo já octogenário fora condenado à morte por “oferecer riscos à saúde social” de seu Estado.
Por pregar o amor ao ódio, o perdão ao revide, a tolerância à intransigência, a liberdade de consciência ao obscurantismo, a paz à guerra, o desapego ao materialismo intransigente e a virtude ao vício, era, agora, conduzido às portas da pena capital pelos juízes draconianos de seu tempo que viam nele a nocividade em pessoa, principalmente para a juventude que tanto o admirava.
Entretanto, seria indultado pelas mãos do próprio imperador se desdissesse sobretudo o que mais passara a vida ensinando: que o Amor era o caminho para libertação da alma humana.
Para tanto, porém, teria que retratar-se publicamente e frente a frente com os magistrados que o condenavam, a fim de que todos, em alto e bom tom pudessem ouvir de seus próprios lábios que tudo quanto ensinara não era verdadeiro, mas sim, temerário e subversivo.
Este era, enfim, um ato de piedade última do senhor imperador para com o decano, que sempre via em cada cena da vida uma oportunidade única de ensinar exemplificando. Aceitou de bom grado o convite.
Houve por parte de todos os filósofos de seu tempo e seus discípulos uma apreensão geral. Renunciaria – pensavam eles- para fugir à morte a verdade que ensinara com tanto desvelo?
O público, que tanto o admirava aguardava, agora, igualmente ansioso, as palavras daquele velho sábio.
E, assim, no dia aprazado, eis que uma multidão se aboletava às portas da Casa da Justiça para não perder nem uma cena sequer da tão esperada retratação do então filósofo da paz, como ficara conhecido o réu ancião.
Também presentes estavam o imperador e toda sua pomposa corte, juízes ansiosos e desejosos mais de vingança do que de justiça e até mesmo um cortejo de pessoas advindas das mais remotas vilas e cidades.
Trazido por soldados que seguravam suas mãos inocentes amarradas, eis que surge, enfim, na sacada do palacete judicial, sereno como sempre, um homem franzino e de cabeleira e barba alvas, que, naquele instante, fitava a multidão com profunda compaixão.
Depois de lidas as acusações que pesavam sobre ele, pediram, então, que se ele curvasse ao reino da suprema justiça de seu Estado, afim de que se redimisse e ganhasse o direito de permanecer vivendo.
Tomado de uma força indizível, olhou fundamente para o céu e depois dirigiu seu olhar para o imperador, dizendo:
Digníssima Majestade Imperial, quero que saibas que quase sempre, morrer pela verdade é perpetuá-la. Pedes que eu renuncie ao que sempre disse: que o Amor é o caminho para a nossa libertação.
Por isso, humildemente, venho em público, até Vossa Majestade, para retratar-me, pois talvez tenha me equivocado de fato.
O amor, realmente, não é caminho para a nossa libertação… O amor, Majestade, realmente, é o único caminho, para a nossa libertação…
Ditas tais palavras, sem mais delongas, levaram-no para um calabouço e daí a poucas horas, aquele que difundira o amor sem medo era exemplarmente enforcado em nome da boa e conveniente ordem social…
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Irmãos, quantos de nós, ao longo de séculos temos preferido fugir à morte do homem velho em nós para continuarmos vivendo sem amor nas conveniências da ilusão?
Paulo, o apóstolo da gentilidade, em sua magnífica primeira epístola aos coríntios, capítulo XIII, versículos seguintes, já nos ensinava que sem amor nada somos…
Jesus, o caminho, a verdade e a vida, a todo instante nos concita a excelência do amor…
Protelamos, voluntariamente, o nosso encontro com a verdade do Amor. Preferimos as facilidades efêmeras. Fugimos à renúncia que o amor exige como quem foge da morte…
Não há, para quem atravessa os portais da vida maior, maior pesar do que a de sentir que poderíamos ter feito mais, amado mais, consolado mais, sorrido mais…
Quando por fim as lágrimas lavam nossas almas aí percebemos de fato que cada instante na oficina da escola terrena é uma oportunidade ímpar. É hora de reescrevermos, de começar de novo, de não mais deixar para amanhã.
Felizes os espíritas que sabemos de antemão que a hora é agora!
Que a verdade do Amor se eternize em nós o quanto antes!
Deixo aos meus sempre ternos irmãos o abraço mais que fraterno deste aprendiz da filosofia da vida, que acena aos seus corações, sequiosos, tanto quanto o meu, de mais amor… daquele mesmo amor que o Mestre por excelência nos ensinou a buscar.
Paz a todos, hoje e todo sempre!
Alan Krambeck
(Página Recebida no dia 21 de Novembro de 2015, no centro Espírita “Casa de Eurípedes, em Taubaté-SP, pelo médium Ari P. Rangel)