A mediunidade, como bem nos ensina Kardec e os espíritos benfeitores, como André Luiz, Manoel Philomeno de Miranda, Odilon Fernandes e outros estudiosos do assunto, que há nela muitas facetas e muitos nuances. Todos somos médiuns e em algum momento de nossas vidas eles se intensificam.
Um dos casos que mais me chamaram a atenção foi um episódio que aconteceu conosco no plano espiritual. Sonhávamos que estava numa praia, em trajes de banho, quando começamos a caminhar. Detalhe: a praia estava deserta. Avistávamos o mar e sentíamos aquela brisa fresca que o vento suave trazia em doces lufadas. Caminhávamos com uma alegria intraduzível quando, de repente, avistamos, ao longe, um homem de cabeleira desgrenhada pelo vento e totalmente branca. O curioso é que ele, na praia, trajava terno e gravata.
À medida que íamos nos aproximando um do outro mais eu percebia seu sorriso fraterno como a querer dialogar conosco, inundado da luz do Sol que o iluminava cada vez mais. Sentia, cada vez mais, meu coração bater sob paternal proteção. Assim, caminhava ao encontro daquele homem enigmático, imantados, por sua energia benfazeja.
Ao nos aproximarmos ainda mais dele observamos que ele estava com um imenso calhamaço de sulfites, curiosamente em branco. Sabemos que nossos sonhos são muito simbólicos e que ao acordarmos sua interpretação é sempre complicada, porém, a nosso ver, aquele não era mais sonho parecendo um caleidoscópio.
Era um desdobramento consciente, daqueles que ao retornarmos ao corpo físico trazemos intactos todos os detalhes vislumbrados. Mas voltando ao “sonho” propriamente dito, ficamos intrigados com aquela figura admirável e a mesmo tempo enigmática: o que ele fazia de terno e gravata numa praia, trazendo nas mãos um volumoso calhamaço?
A pergunta só seria respondida quando por fim nos encontramos. Com fundo olhar em mim, que não conseguia dizer nada, ele me disse, paternalmente, com uma voz um pouco rouquenha, mas extremamente afável: “Vamos trabalhar, meu filho?! As formigas nos ensinam que o trabalho em conjunto realiza prodígios. Então?! vamos trabalhar?!… – logo em seguida, entregou-me aquelas folhas todas em branco e segui em sentido contrário, me acenando com aquele sorriso intraduzível. Despertei. [mc4wp_form id="3050"]
Achei tudo muito estranho. Afinal, onde estava a praia? O homem de cabeleira branca e sorriso paternal? Se sonhos, sonhos são, aquele, definitivamente não era um. Era um encontro real. Pesava-me algo na consciência. Trabalhar por quê? Seria aquele senhor algum patrão? Fiquei por semanas com aquelas impressões. Mas a gente tende a esquecê-las, naturalmente.
Uns dois meses depois, estávamos visitando a Barganha, aqui em Taubaté, tradicional comércio de nossa cidade, onde as pessoas barganham quinquilharias, coisas usadas, coleções, enfim, de tudo um pouco, inclusive livros velhos, compramos alguns deles, quando o amigo vendedor, generosamente nos disse: “Pode levar este, é de poesia”.
Ficamos grato e o trouxemos para casa. Quando chegamos em casa vimos que o autor do livro ofertado era Eurícledes Formiga. Eurícledes Formiga?! Nome estranho, difícil, mas um pouco familiar. “Peraí?”- pensei-, parece nome de algum espírito que já ouvi! A nossa surpresa maior veio logo em seguida.
Quando fomos buscar alguma coisa na Internet, que àquela época não era o que hoje, discada, demorada etc, ficamos impressionados ver se desenhar, devagarzinho na tela, a mesma cabeleira branca e o sorriso enigmático daquele senhor do sonho!” Fiquei arrepiado! “Mas não pode ser”!- disse a mim mesmo – “ é o mesmo homem”!!! Em menos de um mês daquele ano de 2003, o médium Carlos A.Baccelli esteve em Taubaté e mostramos o livro a ele que nos disse ter todos os livros do Eurícledes Formiga, poeta em vida, menos aquele que trazíamos nas mãos.
Claro que o entregamos a ele, imediatamente. Conversamos com o Baccelli que nos orientou carinhosamente. Para quem não sabe, como eu não sabia até então, Eurícledes Formiga, o mesmo da cabeleira branca do nosso sonho, fora poeta de grande vate, médium psicógrafo ostensivo, que ao desencarnar passara a escrever pelas mãos de Chico Xavier e do próprio Baccelli, até hoje, com extensa produção de poemas maravilhosos.
Daquele momento em diante passamos, em alguns momentos, a registrar a presença do incansável poeta, hoje trabalhando do outro lado da vida, que vez por outra nos brinda com um soneto, trovas e até letras de música, como uma letra que ele enviou por nosso humilde intermédio, ao nosso irmão músico e canto espírita Sérgio Santos, que a musicou [Nota: confira os dois programas com participação do Sergio Santos no Vivência: 478 – Canções que Tocam a Alma com Sergio Santos e 450 – Vivência Espírita – 10 Anos no Ar com Mario Vinhas e Sergio Santos] .
Poema este também maravilhosamente musicado pelo nosso querido irmão Jorge Reis, do Grupo Castelã. De lá pra cá nossa sintonia foi ficando cada vez mais apurada. Sempre que comparecemos a algum programa espírita, no rádio ou outra mídia, que nos solicita alguma psicografia, ao vivo, é ele o amigo quem nunca nos deixa na mão, sempre trazendo uma mensagem poética positiva, cristã e sublimada, sempre sob a ótima do Espiritismo Cristão.
Hoje compreendemos a extensão daquele sonho, mais uma nuance da mediunidade, que todos nós portamos, como seres divinos e em potencial desenvolvimento.
CANTA, CANTA, MENSAGEIRO
Canta, canta, mensageiro,
Leva a paz por onde fores
Que a canção iluminada
É o amor lenindo dores!…
Anuncia, alvissareiro,
Entre acordes de alegria
O Evangelho Redivivo
Por Divina Poesia…
Esparrama a mancheias
A canção da caridade
Que faz sempre mais irmãos
Os irmãos de Humanidade…
Onde a noite triste e fria
É cruel desolação,
Leva o sol da esperança
Com Jesus no coração!
Canta aqui, canta acolá,
Canta em prosa, canta em verso,
Qual ditoso passarinho
Na harmonia do Universo…
Canta, canta, mensageiro,
Solta a voz estrada afora,
Leva, alegre, a toda gente
O nascer de nova aurora!..
(mensagem recebida no dia 1 de Abril de 2011).
Ari Rangel