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Recordando Chico: Francisco de Paula Cândido é o nome de batismo do conhecido médium, Chico Xavier, que nasceu em 1910, na cidade de Pedro Leopoldo-MG, cidade que há época tinha perto de 5 mil habitantes, sendo seus pais o senhor João Cândido Xavier e Dona Maria João de Deus.

Foto de Pedro Leopoldo/MG

Ele, um operário que por estar quase sempre desempregado vendia bilhetes para sustentar a família de 9 filhos, dos quais Chico era o penúltimo, e ela, sua mãe, lavava roupas para ajudar na manutenção do lar. Acontece, porém, que aos cinco anos de idade, Dona Maria João é acometida por grave enfermidade e falece. Seu pai, sem condições de cuidar sozinho da imensa prole, distribui os filhos para outras pessoas criarem. Chico é entregue a uma senhora chamada Maria Rita de Cássia, que aliás já cuidava de um sobrinho, o Moacir, que fará, a breve turno, um verdadeiro inferno na vida de Chico Xavier. Era ele quem aprontava para Chico, molhando a sua cama e outras acusações que levavam Dona Ritinha, como era chamada, a dar pelos menos três surras diárias no menino Chico Xavier. Os maus tratos eram tamanhos que até a alimentação do menino era deficiente. Foi num dia de imensas torturas que o pequeno Chico, no fundo do quintal daquela casa, viu sua mãe, agora desencarnada, pedindo-lhe paciência e coragem. Os encontros e as visões se intensificavam. Por conta das revelações de Chico a vara de marmelo e os garfos eram fincados em seu franzino abdômen de maneira mais intensa. Certa feita, o dissimulado Moacir teve uma ferida na perna de grandes proporções. Nada o sarava. Sua tia consultou, então, uma benzedeira que recomendou que uma criança a lambesse durante três sextas-feiras. Dona Ritinha não hesitou e pôs Chico para lambê-las. Evidentemente com o apoio do plano espiritual o jovem Moacir teve a perna cicatrizada. Chico sofria sem parar, mas a partir desse dia, dona Ritinha diminui a intensidade das torturas. Contava o médium, que durante aquele período, quando ia para o quintal ver sua mãezinha desencarnada próximo das bananeiras, era comum aparecer um enorme cão trazendo sempre um jatobá, fruta de grande recurso nutritivo, mas dura de ser descascada e com cheiro não muito agradável.

Dona Cidália Batista, madrasta de Chico Xavier

Dizia Chico Xavier que o enorme animal mordia a fruta até aparecer a parte comestível, mas nunca soube se o cão era deste ou de outro mundo. Dois anos havia se passado quando o pai de Chico, seu João, casa-se em segundas núpcias com Dona Cidália Batista, que pede a ele para reunir, no novo lar, os filhos que entregara a outras pessoas. Chico se livra finalmente de Moacir e Dona Ritinha e volta para junto do pai e dos irmãos e ao lado da madrasta que o compreenderá de maneira maternal. Chico ainda mantinha contatos espirituais com Dona Maria João de Deus e frequentava, agora, o Grupo Escolar São José, tendo visões, ouvindo vozes e se comunicando com os mortos. Era comum, a essa época, Chico recorrer ao Padre Sebastião Scarzelli, que lhe recomendava pesadas penitências. Preocupado, seu João pensava interna-lo em um sanatório, mas o bom sacerdote aconselhou-o a arranjar um emprego para Chico na fábrica de tecidos de Pedro Leopoldo. Aos dez anos de idade o menino entrava às 15h e saía a 1 da madrugada, acordava às 6 e ia para a escola, onde estudava até as 11h. Repousava um tantinho e voltava para o batente. Acontece, porém, que a poeira e o algodão comprometeram os pulmões do menino, que depois de alguns anos foi aconselhado a mudar de emprego. Empregou-se num bar, primeiramente, e depois foi trabalhar no armazém do senhor José Felizardo Sobrinho, por coincidência, esposo da malvada Dona Ritinha. Lá, como caixeiro, Chico labutava das 6 e meia às 20h. Em maio de 1927, a irmã de Chico, Maria da Conceição Xavier adoece gravemente de uma doença mental, que a medicina da época não dava jeito. Seu João apela, então, para um casal de amigos espíritas de uma cidade a 100Km de Pedro Leopoldo, que vêm à casa humilde dos Xavier para uma terapia espiritual.

Maria da Conceição Xavier, irmã de Chico Xavier

Tratava-se, evidentemente, de uma forte obsessão. Nesse mesmo dia, Chico retoma o diálogo com a mãe, através da médium Dona Carmem Pena Perácio – esposa do senhor José Hermínio Perácio – diálogo este que não acontecia desde os seus 10 anos, quando sua mãe deixou de comunicar-se com ele. A eficácia do tratamento curou a irmã de Chico. Resolvem, então, fundar um centro espírita em Pedro Leopoldo, onde Chico é guindado à posição de secretário. Numa sexta-feira, como de costume, no dia 8 de julho de 1927, em reunião pública Chico, a pedido de irmãos espirituais, psicografa sua primeira mensagem, assinada por “um amigo espiritual”. Dona Carmem, médium de excelentes qualidades vê uma chuva de livros sobre Chico Xavier, prenunciando sua futura missão.

Primeiro livro publicado: “Parnaso de Além-Túmulo”

Por 4 anos consecutivos Chico recebeu mensagens espirituais sem assinaturas, quando, em 1931, Emmanuel, seu guia espiritual se apresenta a ele, dizendo e reiterando que se ele, Chico, tivesse disciplina o mundo espiritual escreveria por suas mãos. Um ano depois, em 1932, com a publicação de seu primeiro livro, “Parnaso de Além-Túmulo”, contendo 56 poemas, de 14 poetas, o pobre caixeiro do armazém do seu José Felizardo Sobrinho, ganha notoriedade, e que notoriedade para um moço de apenas 21 anos e tão somente com o curso primário. Há uma explosão no meio acadêmico, uma bomba que dividia opiniões. Uns criam nas mensagens como sendo enviadas do infinito, enquanto outros acreditavam que o humilde moço de Pedro Leopoldo era um excelente pasticheiro, nada mais que isso. Depois de perder a visão esquerda, Chico prossegue firme sob a supervisão de Emmanuel, trabalhando incansavelmente na divulgação dos livros que vinham por sua lavra mediúnica. No ano de 1935, Chico ingressa no Ministério da Agricultura e passa a trabalhar na fazenda modelo de Pedro Leopoldo como escriturário. Chega o ano de 1939 e o médium começa a receber mensagens do conhecido escritor Humberto de Campos, que havia falecido fazia 4 anos. Outro alarde é desencadeado no meio literário e jornalístico. Em 1944, a viúva do escritor recorre à justiça, alegando que se a obra era do falecido marido dela, então os direitos autorais teriam que ser pagos à família, processando, assim, a Federação Espírita Brasileira, que editava os livros e o médium. O processo foi extenuante e muito desgastante para Chico, que temia ser preso. Até que ambos foram absolvidos, dada a saia justa da Justiça, que, se reconhecesse a autenticidade das mensagens faria crer que acreditava no mundo espiritual…

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Chico e Emmanuel

Nesse mesmo ano é lançado o livro que seria o mais lido de toda a obra trazida pelas mãos de Chico Xavier, “Nosso Lar”, revelando detalhes da vida além-túmulo e narrada por um médico que desencarnara precocemente, adotando o pseudônimo de André Luiz, evitando, assim, outros embaraços jurídicos, a exemplo do que sucedera com Humberto de Campos, que a partir daquele episódio passou a assinar como Irmão X. Dois anos depois, Chico é acometido por uma tuberculose, continuando seu processo de grandes provações, mesmo tendo a seu lado espíritos de médicos que escreviam por suas mãos. Mas Chico não para de produzir, como um trator ara a terra sem cessar, quando, em 1958, é novamente envolvido em um escândalo que o deixa profundamente triste. Seu sobrinho, Amauri Pena, filho da irmã que sofrera obsessão, acusa publicamente o tio de ser o próprio autor das mensagens que eram transformadas em livro. Depois de longo processo de sofrimento, em 1959, e sofrendo de labirintite, Chico deixa sua cidade natal e ruma para Uberaba, onde morava o médium e parceiro mediúnico, Waldo Vieira, com quem Chico produzirá em parceria 17 livros. Aposentado por incapacidade física, em decorrência dos muitos problemas de saúde que trazia, sobretudo dos olhos, em 1961, para de exercer o cargo de funcionário público. Já em 1965 e 1966 o médium viaja para os EUA em companhia do médico e médium Waldo Vieira para tratamento oftalmológico e divulgação do Espiritismo. Durante o ano de 1969, uma etapa é vencida pelo médium espírita, ele recebe o 100º livro de sua ininterrupta carreira mediúnica, “Poetas Redivivos”, que, a exemplo do primeiro, era uma coletânea de poemas. Emmanuel lhe diz, peremptório:

“Chico, a partir de agora, sua vida está desapropriada pela espiritualidade maior”.

Três anos após sua escalada ciclópica na produção de livros, 1971, vai ser definitivamente o ano de maior visibilidade para Chico Xavier até então. Numa entrevista histórica, que durou mais de três horas, ele fala de vários assuntos, onde é sabatinado por diversos entrevistadores. Pesquisas da época apontam que de cada 100 televisores ligados naquele dia, 75 assistiam a entrevista de Chico, o que provocará sua volta mais duas vezes ao mesmo programa. A partir daí, até o final de seus dias no mundo físico, o médium será disputado frequentemente para entrevistas de todos os meios de comunicação. Se por um lado o médium e o Espiritismo, através da incansável pessoa de Chico ganhavam ampla divulgação, por outro, Chico adoecia pelo peso da idade e pelo trabalho que levava adiante. Em 1976 é acometido por grave angina que não lhe abandonava o peito. Já em 1980, aos 53 anos de duras atividades mediúnicas, ele é indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 1981, concorrendo com sindicalista polonês Lech Walesa e o papa João Paulo II, também polonês. Mas quem levou o prêmio foi o Alto Comissariado para Refugiados da ONU, embora Chico e o Espiritismo, tenham sido amplamente divulgados. Em Uberaba Chico não parava de receber pessoas de todos os cantos do Brasil e exterior, em busca de mensagens de seus entes queridos ou mesmo da palavra confortadora do apóstolo da mediunidade com Jesus. Em 1999, vamos ter a sua última publicação em livro, “Escada de Luz”, pela qual, certamente, Chico Xavier subiria em poucos anos. No emblemático ano 2000, Chico revela a amigos próximos que Emmanuel, seu mentor havia reencarnado no interior do estado de São Paulo, depois de 69 anos de supervisão espiritual das atividades mediúnicas de Chico Xavier. Chico revela ainda ter presenciado a reencarnação de seu guia espiritual.

E, por fim, dois anos depois desse episódio, em 2002, o “Cisco de Deus”, como gostava de se apresentar, desencarna no dia 31 de Junho de 2002, mesmo dia em que o Brasil se consagrava Pentacampeão Mundial de futebol no continente asiático. Chico sempre dizia que gostaria de desencarnar num dia onde o povo brasileiro estivesse em grande festa. E assim o foi. Hoje seu legado, além de moral, é claro, é de 439 livros, mais de 25 milhões de exemplares vendidos, e uma biografia que mesmo aqueles que tem opiniões diametralmente opostas, o reconhecem como um ser humano notável, cujo exemplo, dificilmente será igualado, como sendo a de um dos maiores discípulos que o Cristo já teve. Sua bondade, Francisco Amor Xavier!

Ari Rangel Ari Rangel
Professor, médium de psicografia e trabalhador do Centro Espírita "Casa de Eurípedes" em Taubaté-SP.

Recordando Chico

Recordando Chico: Sua Bondade, Chico Amor Xavier

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