Mais uma vez, o povo brasileiro mostrou que merece o governo que tem. Não pode reclamar, em nenhum momento, das dificuldades que passa. Mais uma vez foi gasto nesse carnaval milhões de reais em fantasias, em bebidas, em comilanças, em drogas de todos os tipos e qualidades. E muitos ainda dirão: “Temos que valorizar as tradições carnavalescas”. E pergunto: Devemos então desvalorizar o caráter, a hombridade, a cidadania de um povo? Muito sono perdido. Muita gente reunida para nada. Quem dera se todos esses foliões se unissem num único grito: “Já ganhou… São campeões, a Ordem e o Progresso do Brasil”. Seria outra história. Mas, o povo ainda não está à altura dessa conquista… Ainda…
A verdade é que esse mesmo povo brasileiro se engalana nas máscaras da ilusão, da hipocrisia, da falta de vergonha na cara. É um povo que ainda não sabe, realmente, o que é democracia, respeito com o próximo, de amor a Deus. O país passa por uma das crises mais violentas praticadas por políticos corruptos que nós mesmos elegemos. E estamos reclamando, de que? O país precisa urgentemente de cuidados com a saúde, com a educação, com a segurança. E onde está o povo brasileiro? Não esse povo que satisfaz com barganhas políticas. Onde o pobre dá o dinheiro que não tem para comerciantes e políticos, para satisfazerem uma alegria refratária impulsionada por vontades alucinógenas que faz desse povo, desgraçados fantoches onde uma turma da Terra compartilha esse caos moral com a turma de lá, do além-túmulo. Acreditar nisso? Que nada. Aí já é exagero da minha parte…
O mundo todo assistiu nesses últimos dias uma festa em que foram cantados sambas-enredos onde a miséria e a fome mais uma vez se misturou na riqueza e no luxo – não para que fosse solucionar as reais necessidades dos povos – mas que em nada veio contribuir para matar a miséria a olhos vistos. Será apenas mais um troféu ganho colocado entre outros à serventia da poeira, do zinabre e na alimentação de cupins ávidos por mais uma boa refeição. E tudo isso desenvolvido com muito suor e lágrimas por pessoas carentes que doam do tempo escasso em troca de algumas moedas durante todo um ano.
O quanto não foi gasto com Olimpíadas, com a Copa, com o Carnaval! Quanto dinheiro jogado pelo ralo! E mais uma vez muitos dirão: “Temos que valorizar as tradições”. E pergunto novamente: O que não se faz para gastar o que não se tem, para obter uma felicidade abstrata e passageira. E agora? A realidade certamente baterá em cada barraco, em cada periferia, cobrando pela invigilância gritante. E o povo, vestirá o que? Com que dinheiro irá se alimentar? Creio que agora irá morar nos carros alegóricos, vestir com as fantasias desfeitas e se alimentar de confetes e serpentinas. É o que o povo, até então, merece.
Agora vem a Quaresma. Tempo de jejum? Ora minha gente. Vamos colocar a mão na consciência. Tem dinheiro para as Olimpíadas, para a Copa, para o Carnaval. E para as necessidades primordiais, não tem? Por que não teria? Algo está muito errado, não é mesmo? É… Mais uma vez os deuses e os santos foram passados para trás. Agora, quando a barriga roncar, quando vier a sentir frio, quando a doença dar o seu grito, vamos todos clamar pelo Rei Momo. Mas, para a infelicidade de todos, ele estará fazendo a sesta, porque estará tão empanturrado que mal, mal, poderá dar um passo sequer. É… Agora, vamos dar uma salva de palmas às tradições… É… Verdadeiramente não se pode servir a Deus e ao Rei Momo…
Aecio Emmanuel Cesar