Senhoras e Senhores,
Paraísos… Muitos os desejam, não é mesmo? Aquele paraíso em que se possa deliciar de sombra e água fresca. Mas pergunto: será que realmente temos direito a tanto? Será que a nossa consciência não está gritando aos nossos ouvidos tentando nos alertar de que existem muitos irmãos desgraçados na senda de elevação aguardando nossos braços no aconchego mais que humano, espiritualizado?
Como aproveitar do lazer à vezes em excesso, fugindo, sim, à uma rotina de sobrevivência, sabendo que existe à nossa volta, choro e provas de irmãos nossos, morrendo à mingua na sombra do nosso descaso e sedentos pela nossa indiferença? O que estamos fazendo com essa crença religiosa que chamamos de nossa apenas com os lábios? Onde o testemunho exemplar? Onde a solidariedade legítima? Onde o cumprimento fiel dos Mandamentos do nosso Criador? Onde a prática altruísta da Caridade ensinada por Jesus? Tudo isso seria em vão para você? Até então parece que sim não é mesmo?
Gúbio nesse livro “Libertação” na psicografia do médium Chico Xavier, apesar de ser uma obra onde a sombra espessa e o sofrimento indescritível reinam, ainda tem como nos passar valores que até então nos são desconhecidos ou pouco praticados. Não quero ser pessimista, apesar que o mundo está aí com o seu caos moral que não me deixará mentir. Ao contrário, sou muito pé no chão ante a realidade que nos acotovela a todo momento e não queremos sequer mudar de posição na rede ilusória da matéria grosseira aos nossos olhos.
Vejamos o que ele nos faz exercitar em nossos posicionamentos acerca da vida que queremos viver e que não é aquela que nos libertará da sanha dos instintos ainda não rebelados. Vejamos: “A vida física é puro estágio educativo, dentro da eternidade, e a ela ninguém é chamado a fim de candidatar-se a paraísos de favor e, sim, à moldagem viva do céu no santuário do Espírito…”. A Terra não se compara a um clube recreativo onde usufruímos de um prazer insaciável com a fuga das nossas reais obrigações no campo da existência terrena. A vida nesse orbe para todos nós, é escola, hospital e também prisão. Apesar que essa última muitos não a aceitam, por que não? É escola, por que é nela que trataremos do nosso modus vivendus à frente dos sofrimentos alheios; é hospital porque sendo todos nós enfermos da alma, lutamos no corpo físico para libertarmos dessa carapaça que nos impõe, a ignorância, de alcançar voos mais aperfeiçoados; e é prisão sim, porque além de estarmos sujeitos ainda a um cárcere físico, ainda estamos submetidos – ou digamos, presos – à engrenagem de um planeta em transformação, burilando nosso status quo com mais espiritualidade.
Não estamos nesse catre de sofrer tão somente com as nossas imperfeições. Mesmo procurando ocultar dos nossos semelhantes, em muitas ocasiões, a nossa fiel e verdadeira identidade através de um corpo perecível, sempre, sempre a nossa consciência nos registra intimamente quem realmente somos. Aceitar tal posição ou revoltar-se mesmo sutilmente ante a Suprema Justiça Divina? Tal decisão mostrará quem ainda somos no quadro sinuoso do Homo ainda não sapiens com as coisas do espírito.
Devemos considerar que o trabalho no bem é o remédio que irá amenizar nosso quadro de enfermidades. O excessivo apego ao nosso ego é por demais danoso e mortal. O lugar que por ora nos encontramos no mundo, com as pessoas à nossa volta, requer, da nossa parte, experiências que aquilatam o tesouro ainda oculto do nosso espírito. A disciplina, tão praticada e ensinada por mentores espirituais que nos beneficiaram com suas presenças – e que ainda não os reconhecemos nesse mundo – como fator de aprendizado, nos deixam em situações vistas sem saída. Onde a luz no final do túnel, pensarão muitos. Não estaria dentro de nós mesmos? Todo esforço da nossa parte é válido independente de termos a posse desse ou daquele canudo de faculdade. Fazer o bem independe de conhecimentos intelectuais vastos nesse ou naquele setor de profissão.
Continuando com os ensinamentos do Instrutor acima: “Cada criatura nasce na Crosta da Terra para enriquecer-se através do serviço à coletividade”. A atualidade nos mostra o contrário dessa luminosa citação, não é mesmo? À medida que ganhamos conhecimento no campo do saber, procuramos, automaticamente enriquecer nosso bolso através da indiferença com que tratamos nosso semelhante. Por que agimos assim se o nosso final na sepultura igualaremos a muitos que estamos desprezando no mundo? É muito fria e desumana nossa capacidade de não amar o próximo como amamos – ainda que egoisticamente – nossos parentes consanguíneos. Afinal o que valeria para a Misericórdia Divina? Parentesco físico ou espiritual?
Ainda estamos longe de convertermos em servos do Senhor não por falta de oportunidades, mas, sim, por questões da falsa modéstia do bem-estar religioso envenenado pela posição em que ora nos posicionamos nesse mundo. É visto que o respeito com quem estudou nas várias grades da educação é muito grande, contudo, se suas ideias se encontram abitoladas no jargão do “eu” a mente, mesmo não aparentando deficiência de raciocínio, se encontrará enfermiça. Daí os choques biológicos, familiares, pessoais, onde os escândalos fazem a sua vez motivados pela carência objetiva de amolecer as fibras cristalizadas do nosso coração.
Como é difícil a expansão do bem! Por motivos de posição social desmorona todo o crédito com que se valha os Mandamentos do Senhor e as Bem-Aventuradas do Cristo de Deus que ainda se encontram em voga. O que nos falta para coloca-los em prática? Se um médico, nas várias vertentes da saúde, se dispusesse a atender três ou quatro pessoas carentes todas as semanas; de deixar um pouco suas clínicas luxuosas e acolher irmãos mais presentes nos postos de saúde e hospitais do país; se os religiosos apregoassem a verdadeira essência do Evangelho unindo na Causa de um Ideal mais solidário atendendo o chamado da Caridade e não de crença; se os políticos deixassem de olhar tão e simplesmente para o próprio umbigo, atendendo altruisticamente com seus deveres de fieis edis da sociedade que os elegeram, com certeza o mundo estaria bem melhor de viver e de conviver.
Enquanto se preocupam em fazer novas leis no país – muitas delas paradoxais, isentas de um preparo vigente – para que apenas o povo as cumpre, vamos ler o pensamento de Platão a respeito. Vejamos: “Boas pessoas não precisam de leis para obriga-las a agir responsavelmente, enquanto as pessoas ruins encontrarão um modo de contornar as leis”. Essa democracia, existiria no Brasil, ou simplesmente seria mais um paraíso de favores com seus tentáculos de hipocrisia e demência, meu Leitor Amigo? Vamos queimar neurônios?
30/06/2022 – Até a próxima quinta-feira – SEM ATRASO. Fiquem em paz.
Aécio Emmanuel CésarMédium de psicografia desde 1990, tarefeiro espírita na cidade de Sete Lagoas/MG.