Estão abertos os trabalhos.
Deus me envia para vos ensinar que deveis orar sempre. Porém, que a vossa oração seja a expressão de vosso sentimento. Recitar vocábulos sem muitas vezes conhecer-lhes a significação, isso não é orar. A prece deve nascer do íntimo da alma, espontânea, franca, respeitosa e sincera. Que assim deveis rezar para mais facilmente alcançar o alvo a que tendes em mente atingir pelas preces; é o que vos rogamos. Oreis, porém, com fervor, tendo sempre ciência do ato que praticais.
Quereis saber como se reza? Vede!
“DEUS, meus Senhor, permiti que as luzes que encarnam de vós venham aclarar-me o cérebro para melhor poder transmitir algum ensinamento a estes meus irmãos a quem ora me dirijo.”
Orar, repito, deve ser a ação solene, respeitosa, e venerável que o homem pode efetuar.
Como já agora vos apontei a maneira pela qual vos compete orar, passemos a outro assunto.
Filhinhos, vou conduzir a narração de alguns minha vida terreal, que deixei esboçados em sessão anterior.
Convido-vos, todavia, em primeiro lugar, a elevar o pensamento a Deus, a fim de que Ele conceda o perdão tão necessário aos nossos irmãos que tantos males cometeram e que agora lhes sofre as justas consequências.
Para eles, meu DEUS, vossa indulgência!
Reatemos o fio da história.
Antes que a noite colhesse da superfície da terra o tétrico manto e a alvorada, ruborizasse o levante, singrávamos o vasto mediterrâneo, viajamos em direção sul.
Ao avizinharmos do litoral africano, fomos, como já vos disse, aprisionados. Sob o domínio férreo de nossos altivos e titânicos senhores, vimo-nos também sob a mais ríspida das severidades presenciadas nos múltiplos castigos engendrados pelo homem para
maltrato de seu semelhante.
Iníqua e cruelmente tivemos que suportar os efeitos da galera, do ódio e do orgulho de um ente humano.
Com pés e mãos fortemente atados éramos atirados ao relento onde pernoitávamos e sofríamos as consequências da intempérie.
No dia seguinte, éramos soltos para ser restituídos aos labores que à véspera terminaram por dar ensejo exíguo e rude repouso que se nos permitia.
Muito sofremos, filhinhos, porém atualmente também muito bendizemos a dor que aí nos purificou a alma das nódoas de que estava inçada, e nos ofereceu oportunidade para, abandonando a matéria, nos colocar em refúgio seguro onde certamente ela não nos viria incomodar.
A dor é condição imprescindível à conversão da alma pecaminosa em alma resplandecente daqueles brilhos refulgentíssimos que irradiam das virtudes que tão nobre e galhardamente
exemplificou o Divino Filho da doce Maria.
Foi um simples acréscimo esse que quis, como vos prometera, aditar à narrativa que vos expus, das principais ocorrências de minha humilde e obscura vida terrena.
Cumprida essa promessa, falemos de coisa diversa. Na sessão próxima passada, a notável honra de ver o nosso grupo visitado pelo obsequioso Senhor Nosso, que se dignou baixar entre nós. Hoje tornaria ao nosso seio, porém reservou para o fazer em ocasião mais azada. Com tal dilação, não perdemos, porque terão os filhinhos mais tempo para melhor ornar os templos de seus corações, com as flores que Ele muito estima: as açucenas do bom desejo, da caridade, do amor para com o vosso semelhante. Preparai vos, pois, para, condignamente, recebê-lo. Varrei de vossos peitos os sentimentos que traduzem ódio, ciúme e inveja, transmiti na queles que vos dignificam e nobilitam aos olhos de Nosso Pai Misericordioso.
Deus, por intermédio deste miserável, vos envia sua bênção. Preciosíssima dádiva, recebei-a, pois filhinhos, juntamente com o ósculo da paz que vos dou.
Convosco quer falar um vosso irmão.
Dou-lhe licença e passo-lhe a máquina mediúnica.
VICENTE DE PAULO
Comunicação recebida em sessão do dia 06/07/1906 pelo médium Eurípedes Barsanulfo
Ilustração: @nillzon